Quando há vinte anos atrás Espanha e Portugal entraram na União Europeia, estes eram, então, dois países muito diferentes do que são actualmente.
O estabelecimento da democracia foi a mais importante aquisição resultante desta união. A democratização do sistema político foi o começo de uma onda de mudanças nos dois países.
Com a ajuda da União Europeia, Espanha, por exemplo, foi ao longo destes anos diminuindo a inflação, o desemprego e desenvolveu-se de maneira a estar a um passo de se tornar um net contributor na UE. Espanha tornou-se, de facto, na confirmação do sucesso de uma “união europeia”.
Em Portugal, infelizmente, as coisas não acontecem com essa fluidez. É de notar que o Presidente da Comissão Europeia é português mas, no entanto, a evolução não é equivalente.
De um modo comparativo, podemos avaliar as mudanças subsequentes à entrada na UE em várias temáticas, como o desemprego, por exemplo. Embora tendo estado sempre abaixo da média europeia, em Portugal o desemprego tem aumentado nos últimos anos. Juntamente com a fragilidade dos serviços públicos (como o controlo de incêndios) e das infraestruturas, estas características tornam Portugal num alvo de criticas relativamente a um possível mau uso dos fundos fornecidos pela UE.
Se atentarmos, por outro lado, na situação do aborto nos dois países, verificamos de um modo claro as diferenças evolutivas entre eles. Em Espanha, após a morte de Franco, o caminho para a legalização do divórcio e do aborto foi bastante menos complicado. O divórcio foi legalizado em 1981 e o aborto foi legalizado em 1985. Em Portugal o aborto ainda continua a ser encarado como uma prática ilegal, levando à prisão das mulheres que o cometem e dos médicos que o fazem.
O mesmo acontece com o casamento entre homossexuais. Em Espanha este já é legal, assim como a adopção por parte dos mesmos. Em Portugal, embora haja um artigo que proíbe a descriminação por causa da orientação sexual, a verdade é que esta ainda existe. Homossexuais não podem casar nem adoptar mas existem ainda muitas outras formas de discriminação que diferenciam os homossexuais dos heterossexuais, até na linguagem jurídica, ao serem usados termos diferentes para o mesmo crime, no caso do abuso sexual de crianças (se for cometido por um homossexual é relatado como “violação”, se for por heterossexual é relatado como “abuso sexual”).
Esta disparidade é devida, sobretudo, à prevalência do conservadorismo na mentalidade portuguesa, que aliado à (ainda) forte influência da igreja, torna muito difícil, senão impossível, uma mudança decisiva no conceito de liberdade individual.
Segundo o Anuário Ibero-americano (2004), Portugal atravessa anos de recessão, escândalos e catástrofes. Está numa difícil situação financeira desde que entrou em recessão técnica em finais de 2002. Jorge Sampaio, durante uma visita a Madrid, aproveitou para se queixar dos entraves que as empresas lusas encontram ao fazer negócios em Espanha e frisou várias vezes ao largo desse ano o “desastroso erro estratégico” que seria deixar Portugal à margem do processo de integração europeia. (De acordo com os dados do Anuário, em 2002, Portugal importou em bens um valor de 27.009 milhões de dólares e exportou 39.420 milhões ao passo que Espanha importou 158.893 milhões e exportou 125.795 milhões.)
No entanto, estas chamadas de atenção do Sr. Presidente foram, de algum modo, uma maneira de sacudir os escândalos que foram acontecendo entretanto, sobretudo da pedofilia na instituição benéfica da Casa Pia de Lisboa, que salpicou para a politica, para a diplomacia, para a medicina e para várias figuras sociais conhecidas.
A recessão, que causou pela primeira vez em anos um aumento bastante forte no desemprego e o aumento da prostituição no norte do país também são outros escândalos a considerar.
Mas ainda podíamos falar do caso Universidade Moderna de Lisboa, de Fátima Felgueiras, dos índices de sinistralidade (média anual de 1.500 mortos, 5.000 feridos e mais de 50.000 feridos ligeiros) e os 300.000 hectares de floresta ardida pela mão de incendiários ainda à solta.
Inegavelmente, o mais chamativo foi o facto da revista Times ter dedicado uma capa à proliferação das prostitutas brasileiras em Bragança.
É a imagem de um Portugal caído, lutando para não perder terreno na UE, abafado pela grandeza evolutiva do país vizinho.
Comentário crítico feito na ordem de um trabalho da cadeira de Inglês.Etiquetas: política, sociedade