segunda-feira, setembro 18, 2006

E elas?

"Os processos judiciais por crimes de maus-tratos entre marido e mulher atingiram, em 2004, a marca de 53% de condenações. De acordo com dados provisórios do Gabinete de Política Legislativa e Planeamento do Ministério da Justiça, divulgados há cerca de um mês, a percentagem de casos em que é feita prova concludente não tem sofrido variações de ano para ano. Uma realidade que desagrada a quem trabalha diariamente no sector e desencoraja as vítimas da denúncia."

Até aqui nada de novo.

É neste contexto que ainda me custa digerir as profissões de fé e moral que abundam na opinião pública sobre o aborto. Suscita discussão? Sim, suscita. Entende-se? Claro. O que não entendo é facilidade discursiva e argumentativa para se falar de um assunto directamente relacionado com a liberdade individual das mulheres, quando elas continuam a morrer por falta dessa liberdade, por violência doméstica, por falta de apoio, por falta de atitude por parte das autoridades competentes.
Onde é que está a ética, onde estão os moralismos puxados a lustro? Já não é necessária tanta discussão sobre moral ou sobre laicidade num caso de violência pois não? Afinal é um homem que quer acabar com "uma vida" e não uma mulher. É tudo uma questão de pontos de vista?

Tenho muita pena de viver numa sociedade onde o cinismo assumido é forma de emitir opinião.

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4 Comments:

Blogger Siona said...

Infelizmente este é um mundo masculino. Não, as Mulheres não contam. Nem as vidas delas, nem as suas escolhas, nem as suas liberdades.
Elas são o sexo fraco. Mas sempre é melhor ser-se a vítima do que o agressor, pelo menos de um ponto de vista. Se não fossem elas, quem sustentaria a moral, a bondade e a compreensão neste mundo?
Aproveito para citar o que Gandhi disse acerca das Mulheres (não é pena que pessoas como ele sejam tão raras e apareçam tão poucas vezes nesta Terra?):

"Chamar às Mulheres o ‘sexo fraco’ é uma calúnia; é a injustiça que o Homem decidiu fazer à Mulher. Se pela força queremos dizer força bruta, então a Mulher é de facto menos brutal que o Homem. Se por força queremos dizer força moral, então a Mulher está muito acima do Homem. Não tem ela uma maior intuição, uma maior capacidade de autosacrifício, não tem ela maior capacidade de resistência, não é ela mais corajosa? Sem ela, o Homem não poderia existir. Se a não-violência for o nosso princípio guiador, então o futuro pertence à Mulher. Quem poderá fazer um apelo mais eficaz ao coração humano do que a Mulher?”

Não desanime Anabela, as Mulheres ainda podem vir a ter o futuro só para elas ;)

5:55 da tarde  
Blogger Anabela S. Dantas said...

Sim L, já não há quem escreva assim e há pouco quem tenha maturidade intelectual para pensar assim, infelizmente...

Mas acredito que há um futuro para as Mulheres, para aquelas que sabem e que fazem saber. As Mulheres têm mais poder do que julgam e tempo evolui, nada o deterá... :)

6:10 da tarde  
Blogger nmc said...

A minha contribuição é a seguinte: por mais que nos custe entender, existem pessoas que sentem uma qualquer atração inexplicável por situações que lhes causam dor, sofrimento e, em casos avançados, a morte.

Refiro-me precisamente a casos de violência doméstica. Falo por mim e pelo que conheço. Desde a minha adolencência que tomei conhecimento de casos em que as raparigas eram agredidas pelos namorados. Eram agredidas e não faziam absolutamente nada. Voltavam para eles como se nada fosse.

Eu acho isso extremamente estranho. Mas é assim. Neste mundo existem pessoas de todos os tipos.

Depois existe o problema das queixas... maior parte das pessoas não faz quiexa pois não sente vontade de o fazer... estão aprisionadas num pesadelo e não se conseguem soltar.

7:44 da tarde  
Blogger Anabela S. Dantas said...

Esses casos também se verificam. O medo é a melhor arma para quem quer manter um caso de violência sob controlo.
Há que ter em conta que uma mulher que sofre de abusos, sejam eles de que ordem, está a ultrapassar provações tanto de ordem física como psicológica.

8:07 da tarde  

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