sábado, setembro 09, 2006

"Volver"


“Voltar”, como o descreve Pedro Almodôvar, é uma espécie de reconciliação com o passado, com a sua infância e com aldeia onde nasceu. No entanto, ele fê-lo de modo a extravasar esse ponto de partida.
Almodôvar teve uma infância rica em experiências e memórias no cimo da sua La Mancha e depois em Madrid, memórias essas que se espelham nos seus filmes, que cultivou ao longo dos anos para agora poder partilhá-las, desenhando-as com os traços rudes da realidade mas com os leves contornos da arte. Através de ironias gélidas, do humor descomprometido mas carregado de obscuridade, “Voltar” é como uma dança de mulheres, alegre e cheia de música, mas a branco e negro.
Conta com uma Penélope Cruz em escala astronómica, actriz que só havia trabalhado com Almodôvar em pequenos papeis como em “Tudo sobre a minha mãe”. Neste filme Penélope aparece como a protagonista consumada com uma interpretação que supera todas as outras. Conta também com o valiosíssimo contributo de Carmen Maura e todas as outras actrizes que fizeram um trabalho louvável.
Não é a sua obra-prima, mas é, definitivamente, um hino ao seu passado cinematográfico, como um realizador que trata o universo feminino pelo lado menos cor-de-rosa, onde as mulheres agem independentemente ao redor da sua dependência para com o amor, a amizade, o passado, o medo, o sofrimento, o terror, a morte e a vida.
É um filme de subtilezas, com contos nas entrelinhas, que consagram Almodôvar como um exímio "contador de histórias"...

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